Areia amarelada,
lambida preguiçosamente pelo mar. A água pode estar preta ou azul. Depende...
Pode estar tranquila ou muito agitada. Depende... Umas poucas vezes o mar torna-se
violento, busca mais espaço onde não é esperado. Ressaca. Perigosamente bela.
De todo jeito é um prazer vê-lo e ouvi-lo subindo em sua direção e depois
afastar-se como se o respeitasse, adornado com um rendilhado de espuma branca. Bom
mesmo é ver a conjunção do céu com o mar e saber que o mundo continua além da
vista.
Santos é assim depois
que os veranistas se vão. Só do santista, que continua por ali desfrutando a
vista enquanto um cinturão verde de flores e palmeiras protege sua retaguarda
do burburinho do trânsito na avenida. Basta a música do mar e dos pássaros que
volteiam pela praia nos fins de tarde. Mas há menos de cem anos não eram apenas
os pássaros que voavam pela praia, mas pioneiros da aviação em busca de um
recorde, abrindo rotas, levando correspondência... ou simplesmente
entregando-se ao prazer de voar, uma conquista recente de um brasileiro que era
celebridade em Paris.
Então foi a vez da urbanização do entorno da praia, o
início do ajardinamento da orla, a abertura dos canais e a descoberta do lazer
à beira mar. Na praia do
Gonzaga, entre 1934 e 1936, muito antes que o surf fosse conhecido no Brasil, o
americano Thomas Rittscher Júnior já surfava na
praia do Gonzaga, usando a prancha que ele construíra a partir de um modelo
visto em uma revista americana.
Santos: dia 21 de janeiro é dia do Surfista. |
Nos anos 1940, os italianos Bruno e Luigi Donadelli passavam horas
na praia jogando bola de tênis um para o outro, usando dois pandeiros (aqueles
de arco de madeira e revestimento de couro). Logo os irmãos ganharam companhia:
Ramon Sanches, Danilo Alonso, Arthur e Pedro Lopes e os irmãos João e
Santiago Esteves. Os rapazes logo incrementaram a brincadeira: riscaram uma
quadra na areia e dividiram com uma rede de tênis. Acabava de nascer o
tamboréu, bem em frente à Rua Marcílio Dias, no Gonzaga.
A orla
continuou a ser incrementada ao longo de todos esses anos: os jardins foram
crescendo, as esculturas ganharam mais espaço, vieram as barracas, os
ambulantes, os quiosques. Enfim, é uma obra em contínuo desenvolvimento. A
praia é de todos.
O preço: 104 toneladas de lixo após a festa de réveillon de
2019. Algo que não consigo entender já que ouço em cada esquina um discurso
ecológico de praticamente toda a população. Constata-se, então, que o discurso
não tem nada a ver com a ação. Lamentável.
2 comentários:
Incrível o desrespeito das pessoas. Tudo bem que muita gente vai para a praia na hora da passagem de ano e fica por lá mesmo. E não leva o lixo embora: ou porque vai voltar de ônibus lotado para a periferia ou por descaso mesmo, porque quem vem de carro, mesmo que durma na areia, poderia levar seu lixo embora.
Fiquei espantado com a quantidade de gente na praia este ano. Assisti aos fogos no canal 2 com amigos e depois voltei para São Vicente a pé, pela calçada dos jardins. Uma multidão em praticamente toda a extensão, o que até dava uma sensação de segurança. Não vi brigas nem entreveros, apenas um ou outro bêbado mais eufórico - e policiais. Em número suficiente para serem notados.
O problema do lixo na praia é desolador. A desculpa esfarrapada dos porcalhões é que mais tarde é feita a limpeza. A limpeza tem um custo econômico alto, mas o maior prejuízo é ambiental porque à medida que os equipamentos removem os detritos, causam transtornos ao equilíbrio ecológico ao remover a areia onde vive a meiofauna e a microfauna, muito importantes para o meio ambiente.
Postar um comentário