domingo, 28 de março de 2021

BILLIE HOLiDAY

Billie Holiday, Lady Day (1915-1959), cantava divinamente bem e felizmente podemos continuar a ouvi-la em gravações memoráveis. Ela teve uma vida penosa,  fez sucesso, enfrentou preconceito, foi admirada pelos grandes nomes da música, mas sucumbiu às drogas que lhe destruíram a voz. A autobiografia “LADY SINGS THE BLUES” não foi escrita por ela que encomendou o livro ao jornalista e amigo William Dufty, do New York Post. Segundo Ruy Castro* nessa “autobiografia” há uma série de coisas que não aconteceram ou aconteceram de outro jeito. E o primeiro erro já está no primeiro parágrafo: os pais dela nunca se casaram. De todo jeito o livro é muito bom e pode-se complementar a leitura com o livro de Donald Clark (1994), recomendado por Ruy Castro, mas que não li.  

*SAUDADES DO SÉCULO 20. Billie Holiday. Aos pés da própria lenda”. Ruy Castro: Companhia das Letras, 1994.

 UMA OUTRA PRIMAVERA

“Mamãe e papai não passavam de duas crianças quando se casaram. Ele tinha dezoito anos, ela, dezesseis e eu, três.

    Mamãe trabalhava como doméstica de uma família branca. Quando eles descobriram que ela estava grávida simplesmente a botaram para fora. A família de papai também quase teve um troço quando ficou sabendo. Eles eram gente fina mesmo, e nunca tinham ouvido falar de coisas desse tipo acontecendo em East Baltimore, onde viviam.

Mas as duas crianças eram pobres. E, quando se é pobre, a gente cresce rapidinho.

Foi um milagre que  minha mãe não tenha acabado num reformatório e eu como uma enjeitada. Mas Sadie Fagan já me amava desde quando eu não passava de uma coisa que lhe dava pontapés na barriga enquanto ela esfregava o chão das casas. Ela foi até o hospital e fez um trato com a chefe. Disse que lavaria o chão e cuidaria das outras vagabundas grávidas internadas lá e assim pagaria seu atendimento e o meu. E foi o que fez. Mamãe tinha treze anos quando eu nasci naquela quarta-feira, dia 7 de abril de 1915, em Baltimore.”

LADY SINGS THE BLUES – Uma autobiografia. Editora Brasiliense. São Paulo, 1985.

 

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