Billie
Holiday, Lady Day (1915-1959), cantava divinamente bem e felizmente podemos continuar a
ouvi-la em gravações memoráveis. Ela teve uma vida penosa, fez sucesso, enfrentou preconceito, foi
admirada pelos grandes nomes da música, mas sucumbiu às drogas que lhe
destruíram a voz. A autobiografia “LADY SINGS THE BLUES” não foi escrita por
ela que encomendou o livro ao jornalista e amigo William Dufty, do New York Post. Segundo Ruy Castro* nessa
“autobiografia” há uma série de coisas que não aconteceram ou aconteceram de
outro jeito. E o primeiro erro já está no primeiro parágrafo: os pais dela
nunca se casaram. De todo jeito o livro é muito bom e pode-se complementar a
leitura com o livro de Donald Clark (1994), recomendado por Ruy Castro, mas que
não li.
*SAUDADES DO SÉCULO 20. Billie Holiday. Aos pés da própria lenda”. Ruy Castro: Companhia das Letras, 1994.
UMA OUTRA PRIMAVERA
“Mamãe
e papai não passavam de duas crianças quando se casaram. Ele tinha dezoito
anos, ela, dezesseis e eu, três.
Mamãe
trabalhava como doméstica de uma família branca. Quando eles descobriram que
ela estava grávida simplesmente a botaram para fora. A família de papai também
quase teve um troço quando ficou sabendo. Eles eram gente fina mesmo, e nunca
tinham ouvido falar de coisas desse tipo acontecendo em East Baltimore, onde
viviam.
Mas as duas crianças eram pobres. E, quando se é pobre, a gente cresce
rapidinho.
Foi um milagre que minha mãe não
tenha acabado num reformatório e eu como uma enjeitada. Mas Sadie Fagan já me
amava desde quando eu não passava de uma coisa que lhe dava pontapés na barriga
enquanto ela esfregava o chão das casas. Ela foi até o hospital e fez um trato
com a chefe. Disse que lavaria o chão e cuidaria das outras vagabundas grávidas
internadas lá e assim pagaria seu atendimento e o meu. E foi o que fez. Mamãe
tinha treze anos quando eu nasci naquela quarta-feira, dia 7 de abril de 1915,
em Baltimore.”
LADY SINGS THE BLUES – Uma autobiografia. Editora Brasiliense. São Paulo,
1985.
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