sábado, 27 de março de 2021

LEON ELIACHAR

Leon Eliachar (1922--1987) foi jornalista, escritor e humorista brasileiro. Nasceu no Cairo. Ele trabalhou no jornal ÚLTIMA HORA e manteve colunas nas revistas CRUZEIRO e MANCHETE. Escreveu seis livros. Em 1956, recebeu o primeiro prêmio na IX Exposição Internacional de Humorismo realizada em Bordighera, na Itália. Ele condensou a história de sua vida de forma bem humorada e original.

 "POR ALTO, BIOGRAFIA"

"Nasci no Cairo, fui criado no Rio; sou, portanto, “cairoca”. Tenho cabelos castanhos, cada vez menos castanhos e menos cabelos. Um metro e 71 de altura, 64 de peso, 84 de tórax (respirando, 91), 70 de cintura e 6,5 de barriga. Em 1492, Colombo descobriu a América; em 1922, a América me descobriu. Sou brasileiro desde que cheguei (aos 10 meses de idade), mas oficialmente, há uns sete anos: passei 35 anos tratando da naturalização.

Minha carreira de criança começou quando quebrei a cabeça, aos dois anos de idade; minha carreira de adulto, quando comecei a fazer humorismo (passei a quebrar a cabeça diariamente). Tive vários empregos: ajudante de balcão, ajudante de escritório, ajudante de diretor de cinema, ajudante de diretor de revista, ajudante de diretor de jornal. Um dia resolvi ajudar a mim mesmo sem a humilhação de ingressar na Política: comecei a fazer gracinhas – fora da Câmara.

Nunca me dei melhor.

Meu maior sonho é ter uma casa de campo com piscina, um iate, um apartamento duplex, um corpo de secretárias, um helicóptero, uma boa conta no banco, uma praia particular e um short. Por enquanto já tenho o short.

Sou a favor do divórcio, a favor do desquite e a favor do casamento. Sem ser a favor deste último não poderia ser dos primeiros. Sou contra o jogo, o roubo, a corrupção e o golpe; se eu fosse candidato isso não deixaria de ser um grande golpe.

O que mais adoro: escrever cartas.  

O que mais detesto: pô-las no Correio. Minha cor preferida é a morena, algumas vezes a loura.

Meu prato predileto é o prato fundo.

O que mais aprecio nos homens: suas mulheres – e nas mulheres, as próprias. Acho a pena de morte uma pena.

Não sou superticioso, mas por via das dúvidas, evito o “s” depois do “r” nessa palavra. Se não fosse o que sou, gostaria de ser humorista.

Trabalho 20 horas por dia, mas, felizmente, só uma vez por semana; nos outros dias, passo o tempo recusando propostas – inclusive de casamento. Acho que a mulher ideal é a que gosta da gente como a gente gostaria que ela gostasse – isso se a gente gostasse dela.

        Para a mulher, o homem ideal é o que quer casar. Mas deixa de ser ideal logo depois do casamento, quando o ideal seria que não deixasse. Mas isso não impede que eu seja, algum dia, um homem ideal."

Leon Eliachar: O HOMEM AO QUADRADO. Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro: 1973.

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