Leon Eliachar (1922--1987)
foi jornalista, escritor e humorista brasileiro. Nasceu no Cairo. Ele
trabalhou no jornal ÚLTIMA HORA e manteve colunas nas revistas CRUZEIRO e MANCHETE. Escreveu seis livros. Em
1956, recebeu o primeiro prêmio na IX Exposição Internacional de Humorismo
realizada em Bordighera, na Itália.
"Nasci
no Cairo, fui criado no Rio; sou, portanto, “cairoca”. Tenho cabelos castanhos,
cada vez menos castanhos e menos cabelos. Um metro e 71 de altura, 64 de peso,
84 de tórax (respirando, 91), 70 de cintura e 6,5 de barriga. Em 1492, Colombo
descobriu a América; em 1922, a América me descobriu. Sou brasileiro desde que
cheguei (aos 10 meses de idade), mas oficialmente, há uns sete anos: passei 35
anos tratando da naturalização.
Minha carreira de criança começou quando quebrei a cabeça, aos dois anos
de idade; minha carreira de adulto, quando comecei a fazer humorismo (passei a
quebrar a cabeça diariamente). Tive vários empregos: ajudante de balcão,
ajudante de escritório, ajudante de diretor de cinema, ajudante de diretor de
revista, ajudante de diretor de jornal. Um dia resolvi ajudar a mim mesmo sem a
humilhação de ingressar na Política: comecei a fazer gracinhas – fora da
Câmara.
Nunca me dei melhor.
Meu maior sonho é ter uma casa de campo com piscina, um iate, um
apartamento duplex, um corpo de secretárias, um helicóptero, uma boa conta no
banco, uma praia particular e um short. Por enquanto já tenho o short.
Sou a favor do divórcio, a favor do desquite e a favor do casamento. Sem
ser a favor deste último não poderia ser dos primeiros. Sou contra o jogo, o
roubo, a corrupção e o golpe; se eu fosse candidato isso não deixaria de ser um
grande golpe.
O que mais adoro: escrever cartas.
O que mais detesto: pô-las no Correio. Minha cor preferida é a morena,
algumas vezes a loura.
Meu prato predileto é o prato fundo.
O que mais aprecio nos homens: suas mulheres – e nas mulheres, as
próprias. Acho a pena de morte uma pena.
Não sou superticioso, mas por via das dúvidas, evito o “s” depois
do “r” nessa palavra. Se não fosse o que sou, gostaria de ser humorista.
Trabalho 20 horas por dia, mas, felizmente, só uma vez por semana; nos
outros dias, passo o tempo recusando propostas – inclusive de casamento. Acho
que a mulher ideal é a que gosta da gente como a gente gostaria que ela
gostasse – isso se a gente gostasse dela.
Para a mulher, o homem ideal é o que quer
casar. Mas deixa de ser ideal logo depois do casamento, quando o ideal seria
que não deixasse. Mas isso não impede que eu seja, algum dia, um homem ideal."
Leon Eliachar: O HOMEM AO QUADRADO. Editora
Francisco Alves, Rio de Janeiro: 1973.
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