terça-feira, 30 de março de 2021

PAULO FRANCIS

“Biografia é o romance favorito da classe média inteligente hoje em dia. No passado, no século XIX, essa gente lia, felizarda, Balzac e Dickens, mas nos nossos dias lê biografias de gente importante. (FSP, 30/06/88) Amado e odiado. Polêmico. Paulo Francis foi jornalista político e cultural, como ele mesmo se definiu. Irreverência para mim apaixonante. Ele era Franz Paulo Trannin Heilborn (1930-1997) interpretando Paulo Francis, um grande personagem. O pseudônimo, aliás, foi dado por Pascoal Carlos Magno (1906-1980), ator e teatrólogo, além de diplomata. 

Abaixo vai um recorte do livro “O Afeto que se encerra ‒ Memórias” (Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1980).

I. BEM...

     “Este livro não é uma autobiografia. Contém passagens autobiográficas. Não é o estudo ou reminiscência de um período histórico. É memória seletiva [...] Somos todos narcisistas. A diferença é o grau de entendimento da nossa condição. E, claro, dos usos que fazemos de nós mesmos.

    [...] Paulo Francis nasceu em 1951. Mexeu de leve nas cargas e castigos de Franz Paulo Trannin Heilborn, eu, antes que Paschoal Carlos Magno me batizasse ‘Paulo Francis’, nome típico de ‘bailarino’ de teatro de revista (Gloria May e Paulo Francis em Cutuca o balaio da negra, de Stanislaw Ponte Preta...). Em Cabeça preciso confrontar a infância e a adolescência de F.P.T.H., que não havia desenvolvido (começava) as defesas de Francis. Franz (nome que detesto) se não bebeu fel de gasolina, andou perto, menino meio gago, excessivamente sensível a rejeições dos raros a quem amou, às vezes brutal, indistinguível de uma besta fera.

[...] E chegamos aos motivos finais. Franz nasceu (me dizem. Ver adiante) em setembro de 1930. Completo (ei) 50 anos em 1980. Acho boba essa mania (e clichê) de imprensa, simplificar a vida em décadas. Confesso, apesar disso, que a expressão ‘meio século’ me fascina um pouco. Não é à toa que fui marxista-trotskista durante 14 anos. Resolvi ter um livro na rua aos 50 anos. Vaidade. E curiosidade.”

[...] Quis ser escritor desde que li Crime e Castigo aos 14 anos de idade. 

[...] Fui bebê e menino bonito. Sim, tenho provas fotográficas.”

Nenhum comentário: