sábado, 28 de janeiro de 2023

AGRURAS JORNALÍSTICAS

 

O editor do jornal (anos 1970) criou uma coluna sobre bairros, abordando principalmente os problemas e as reclamações da população  a princípio de Santos e depois de São Vicente também. Tarefa que atribuiu a mim. Eu escolhia o bairro onde levantava problemas, ouvia população e cobrava do poder público uma resposta. As reclamações se concentravam principalmente nas áreas mais novas da cidade – Zona Noroeste ou ainda pouco habitadas, como a Ponta da Praia que, pasmem! – ainda era um matagal nos anos de 1970.

Conheci quase todos os presidentes de sociedades de amigos de bairros, muitos dos quais tinham algum vínculo com políticos e eram muito criticados pelos moradores. As queixas não mudavam muito: ruas esburacadas, esgoto a céu aberto, terrenos abandonados, lixo, ratos, falta de iluminação pública etc. e tal. Uma das reclamações recorrentes era a infestação de ratos provocada pela falta de limpeza de valas, terrenos abandonados e lixo acumulado a céu aberto. Havia quase sempre indignadas senhoras se queixando, alarmadas com a dimensão do problema. (nos depois a rataria até se expandiu para os jardins da praia, o que motivou o prefeito Oswaldo Justo (1923-2003) a requisitar um batalhão de gatos para enfrentar o problema que, pelo menos, lhe rendeu publicidade.

O trabalho tinha um grande apelo popular – havia uma senhora que mobilizava as moradoras do bairro para fazer reivindicações na redação. Houve um tempo em que o secretário de Obras chamava a reportagem para acompanhar visitas de inspeção a alguma região. Ia tudo muito bem até que um dia, em visita à redação, nosso colega e amigo Perito ao me ver abriu os braços e todo sorridente gritou: “Dona Ratazana! Quanto tempo!” Muito meigo! Não fiquei feliz, claro, mas relevei em nome da amizade. (Mais tarde me tornei "rata" de biblioteca.) Outra querida amiga, Elaine – que nas poucas horas vagas adorava pregar peças – lançou en petit comité minha candidatura à vereadora e até fez umas cédulas (naquele tempo tinha isso) em que eu aparecia como Hilda Amarante (sobrenome do coronel secretário de Serviços Públicos). Não gostei da ideia, o que não me impediu de guardar uma dessas relíquias. Elaine, infelizmente, faleceu ano passado.



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