Em
casa havia duas cadeiras de balanço. Uma de vime ficava na área externa e outra
madeira e palhinha, na sala. Carlos Drummond de Andrade diz que cadeira de balanço “é móvel da tradição brasileira que não
fica mal em apartamento moderno. Favorece o repouso e estimula a contemplação
serena da vida, sem abolir o prazer do movimento”. Das casas grandes em que
vivi em Santos até a mudança para o apartamento em São Paulo em que moro,
sempre encontrei um espaço para a cadeira de palhinha de minha avó. Raramente a
uso, pois a coluna reclama, indiferente às razões que me levam até ela.
Na
minha infância, ela já era antiga. Imagino que deve beirar os cem anos. Nela
sentaram-se todas as pessoas importantes em minha vida, além daquelas que nem
cheguei a conhecer – o avô, uma tia que deixou uma marca tão forte na família
que é como se eu tivesse convivido com ela... A cadeira de palhinha ficava num
canto da sala – misto de sala de jantar e visita – ao lado do relógio cuco à
disposição da família e das visitas. Com o tempo, minha avó deu preferência à
cadeira de vime, onde lia as orações, o jornal e algum livro ou cochilava;
ouvia o rádio à tarde fazendo crochê e assistia à televisão à noite. Era uma
espécie de trono: em torno dela reuniam-se as amigas para longas conversas sobre
a vida, a política e muitas histórias. A imagem recorrente, entretanto, é a da
minha avó, acomodada em sua cadeira preferida, crochetando colchas, toalhas de
mesa, pertences para enfeitar a casa ou para presentear pessoas especiais.
Tudo tem história, mesmo quando não se tem um registro preciso. Caso das cadeiras de balanço que surgiram em meados do século XVIII, mas foi na Áustria que Michel Thonet (1796-1871) criou um design que conquistou o mundo: estrutura de madeira arqueada e encosto de palha de cana ou de folha de palmeira trançada. Passei toda a vida sem saber desses detalhes que não me tornam mais feliz, pois o que me faz mesmo feliz são as lembranças que a cadeira de balanço, hoje objeto de atração das raras visitas, me proporciona.
https://www.youtube.com/watch?v=hrqJkxQbPGM
A música para embalar esta lembrança, que tem um espaço especial em minha sala, é interpretada pela dupla sertaneja Sebastião Franco (Craveiro) e João Franco (Cravinho). Eles são irmãos, nascidos respectivamente em 1931 e 1939, em Pederneiras, município de São Paulo. Composição de José Caetano Erba (1937-2009), também de Pederneiras.
Um comentário:
Adorei!!!!
Postar um comentário