Depois
de tanta chuva, bate uma preguiça de andar por aí. Levar guarda-chuva, nem
pensar. As nuvens ficam navegando para lá e para cá. Umas com jeito de algodão
e outras ameaçadoras. O sol tenta furar a barreira com pouco sucesso. Ano novo,
novo caminho, agora pela Liberdade. As
placas com caracteres orientais me dão a falsa impressão de que estou em alguma
parte do Oriente sem fronteiras – o bairro teve início com a colônia japonesa,
mas atualmente reúne coreanos e chineses. O Bradesco caprichou na decoração da
fachada. O bairro também guarda muitos elementos de história colonial paulista
– como testemunham a igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados (1891) e a
capela Nossa Senhora dos Aflitos (1775).
Após a praça a avenida se bifurca:
final da rua Rodrigo Silva, onde uma placa me atrai e vou visitar o sebo João
Batista, muito bem organizado. Todo mundo sabe que a urbanização da cidade é
bem desajustada: mal caminho cem metros e estou na praça Carlos Gomes, que tem
todo jeito de uma rua paralela à Rodrigo Silva. Entre o arvoredo, vislumbro um
prédio que me chama atenção e descubro o Cine Joia, inaugurado em 1952 com
capacidade para 1.100 pessoas. Até meados de 1970 exibia basicamente filmes
japoneses; entrou em decadência e foi fechado. Em 2011 foi adquirido por um
empresário argentino que abriu um novo Cine Joia, que apesar do nome, é uma
casa noturna de sucesso, pelo menos foi o que me contaram.
Hora de almoço. Caminhada chega ao fim.
Ônibus quase vazio. Barulho só do trânsito lá fora. Cada um cuidando da própria vida ou consultando o celular. O cobrador cochila. Toca um telefone. O idoso ao lado se mexe, pesca o aparelho no bolso e atende discretamente. Ele não gasta palavras. Diz “sim”, “não” e “vivo”. Deduzo que seja telemarketing. Longa pausa ouvindo o interlocutor. Eu teria dispensado a ligação logo após a identificação da chamada. Enfim, ele indaga com sarcasmo: “é de graça?” e deve ter ouvido um “claro que não” porque responde secamente “então não interessa” e desliga. O cobrador, que acordara com o toque do telefone, inicia uma conversa com o idoso sobre essas chamadas inoportunas. O motorista também tem o que dizer sobre o assunto. Felizmente chego ao meu destino. Fotos: Hilda Araújo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário