quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

ONDE É QUE MORA A ALEGRIA?

 

Prédio em estilo neocolonial, projeto de Ricardo Severo  –  1941.


“Onde é que mora a amizade,

onde é que mora a alegria?

É no Largo de São Francisco,

na velha Academia”

 

Quadrinha dos alunos da Faculdade Direito do Largo de São Francisco, criada por decreto imperial em 11 de agosto de 1827, junto com a Faculdade de Direito de Recife. A instalação do curso jurídico foi decisiva para o futuro de São Paulo. “A cidade (...) ganhou um novo sopro de vida. A Academia de Direito, por modesta que fosse, viria a revitalizar-lhe a economia e trazer algum movimento às ruas”, afirma Roberto Pompeu de Toledo em sua obra sobre São Paulo. O curso atraiu estudantes de várias partes do país, muitos dos quais se instalavam em repúblicas e são famosas as estudantadas, que promoviam. Mais importante o curso gerou atividades culturais inexistentes na cidade. No mesmo ano em que foi criada a Academia – nome que recebeu apenas em 1831 – começou a circular o Farol Paulistano, primeiro jornal impresso da cidade que até então contava com O Paulista, um bissemanário manuscrito. Ali, no prédio do antigo convento de Santo Antônio, no Largo de São Francisco, onde se instalou o curso jurídico, entre uma aula e outra, formou-se uma plêiade de poetas, escritores e jornalistas brasileiros, sem contar advogados e políticos que tiveram importante papel na história do país.

Olavo Bilac (1865-1918), poeta e jornalista carioca, passou por São Paulo no final do século XIX a caminho de Poços de Caldas, e numa crônica lembrou da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em 1887, onde passou um ano “a fingir que estudava retórica”, época em que “a Pauliceia era uma calada cidade de estudo e troça”.

            “Na ponte Grande, no fluxo das águas claras, ainda vibrava o eco abafado da canção boêmia de Castro Alves: ‘Nini! Tu és o cache-nez desta alma!/ Ó Pauliceia! Ó ponte Grande! Ó Glória!’.”

“Quando caía a noite, começava a peregrinação de ‘república’ em república’, de café em café, discutindo tudo, resolvendo todos os altos problemas da moral, da filosofia, da religião, até a hora da ceiota ruidosa. Depois, o vagamundeio pelas ruas mortas sob a garoa fina até o romper do dia, sem esquecer (lembras-te, Paulo? Lembras-te, Pujol? Lembras-te, Machadinho?) a visita ao ‘eco da Academia’, um pobre eco mofino que já estava rouco de tanto repetir blasfêmias e barbaridades... Tudo isso desapareceu, levado na enxurrada pela pachorra dos anos.”  

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