quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

JAGUAR BISSEXTO

 JAGUAR, 91

Sempre difícil selecionar livros para doação. Passo horas folheando alguns que, aparentemente, podem ser doados. Um bom exemplo: “Confesso que bebi”. Livro do Jaguar (1932), jornalista, cartunista e um dos fundadores do “PASQUIM” e que hoje completa 91 anos. Acabei esquecendo a tarefa e me pus a reler as deliciosas histórias que se passaram em bares, botequins, botecos e sujinhos do Rio de Janeiro em meados do século passado e que envolvem jornalistas, artistas, políticos, escritores, poetas, músicos, socialites e populares da Cidade Maravilhosa. Imaginem que a dedicatória ocupa três páginas! O prefácio de outro craque: Joaquim Ferreira dos Santos. Mas não se trata apenas de um guia etílico, mas das comidas servidas naqueles estabelecimentos. 

            Um dos causos é  a ida de Jaguar à Maria da Graça, bairro da Zona Norte, na companhia de Celso Japiassu (1939), poeta, publicitário e restauranteur, guiados por Chico PF (Prato Feito): “É simples – garante ele – é só seguir pela São Francisco Xavier, pegar o viaduto antes de Sampaio, e atravessar a favela do Jacarezinho”. Em frente ao bar tem (ou tinha) uma imensa amendoeira, que emprestou o nome ao boteco, que oficialmente se chama Café e Bar Lisbela. Eles pedem o prato do dia – feijão branco com costelinha, mas o garçom diz que tem carrê à mineira. E o prato do dia? “Às vezes o cozinheiro faz.” Adoro essas coisas impensáveis em São Paulo... Jaguar (que estava trabalhando) anotou o cardápio da semana com um adendo: “não custa telefonar para confirmar”.

E tem a história do bar Capelinha da Gávea na rua Pacheco Leão, no Jardim Botânico, tão pequeno que mal cabiam cinco fregueses de pé. Jaguar relembra que Leila Diniz (1945-1972) a caminho da Globo costumava tomar uma batida de maracujá no barzinho e um dia, sem querer, rebatizou o bar: “Porra, quando a gente bebe aqui, fica com a bunda de fora!” Os frequentadores se entusiasmaram. O nome “pegou” e o dono tratou de mudar letreiro. As autoridades intervieram e ele deu um jeitinho – “B. de Fora”, mas não deu certo e ficou “...de fora” Como estamos no século XXI, hoje ele exibe o nome completo “Bar Bunda de Fora”.

Uma estagiária do jornal (?) quis uma definição de botequim. “Um botequim deve ser, de preferência, razoavelmente limpo. Mas não a ponto da gente pensar que está bebendo numa enfermaria. Ninguém morre de infecção contraída em bar. E quantos já morreram de infecção hospitalar?” Para ele boteco que se preze deve ter: de ovo cozido a sanduíche de churrasquinho, de caracu com dois ovos, o Viagra dos pobres, ao bete-entope mais barato, pão com ovo.”

Charge do Jaguar, 1998.

Jaguar: Editora Record, Rio de Janeiro – São Paulo, 2001.


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