JAGUAR, 91
Sempre
difícil selecionar livros para doação. Passo horas folheando alguns que,
aparentemente, podem ser doados. Um bom exemplo: “Confesso que bebi”. Livro do
Jaguar (1932), jornalista, cartunista e um dos fundadores do “PASQUIM” e que
hoje completa 91 anos. Acabei esquecendo a tarefa e me pus a reler as
deliciosas histórias que se passaram em bares, botequins, botecos e sujinhos do
Rio de Janeiro em meados do século passado e que envolvem jornalistas,
artistas, políticos, escritores, poetas, músicos, socialites e populares da Cidade
Maravilhosa. Imaginem que a dedicatória ocupa três páginas! O prefácio de outro
craque: Joaquim Ferreira dos Santos. Mas não se trata apenas de um guia etílico, mas
das comidas servidas naqueles estabelecimentos.
Um dos causos é a ida de Jaguar à Maria
da Graça, bairro da Zona Norte, na companhia de Celso Japiassu (1939), poeta, publicitário
e restauranteur, guiados por Chico PF (Prato Feito): “É simples –
garante ele – é só seguir pela São Francisco Xavier, pegar o viaduto antes de
Sampaio, e atravessar a favela do Jacarezinho”. Em frente ao bar tem (ou tinha)
uma imensa amendoeira, que emprestou o nome ao boteco, que oficialmente se
chama Café e Bar Lisbela. Eles pedem o prato do dia – feijão branco com
costelinha, mas o garçom diz que tem carrê à mineira. E o prato do dia? “Às
vezes o cozinheiro faz.” Adoro essas coisas impensáveis em São Paulo... Jaguar
(que estava trabalhando) anotou o cardápio da semana com um adendo: “não custa
telefonar para confirmar”.
E
tem a história do bar Capelinha da Gávea na rua Pacheco Leão, no Jardim
Botânico, tão pequeno que mal cabiam cinco fregueses de pé. Jaguar relembra que
Leila Diniz (1945-1972) a caminho da Globo costumava tomar uma batida de
maracujá no barzinho e um dia, sem querer, rebatizou o bar: “Porra, quando a
gente bebe aqui, fica com a bunda de fora!” Os frequentadores se entusiasmaram.
O nome “pegou” e o dono tratou de mudar letreiro. As autoridades intervieram e
ele deu um jeitinho – “B. de Fora”, mas não deu certo e ficou “...de fora” Como
estamos no século XXI, hoje ele exibe o nome completo “Bar Bunda de Fora”.
Uma estagiária do jornal (?) quis uma definição de botequim. “Um botequim deve ser, de preferência, razoavelmente limpo. Mas não a ponto da gente pensar que está bebendo numa enfermaria. Ninguém morre de infecção contraída em bar. E quantos já morreram de infecção hospitalar?” Para ele boteco que se preze deve ter: de ovo cozido a sanduíche de churrasquinho, de caracu com dois ovos, o Viagra dos pobres, ao bete-entope mais barato, pão com ovo.”
Jaguar:
Editora Record, Rio de Janeiro – São Paulo, 2001.
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