Foi
uma surpresa encontrar pão de cará na loja do Pão de Açúcar aqui em São Paulo.
Claro que comprei, mas foi uma decepção. Não chega aos pés do pãozinho santista.
Borrachudo. Tenho mesmo que me contentar com a bisnaga paulistana. A padaria da
minha infância era enorme (ou parecia porque eu era criança) e, como diz o
nome, só vendia pão e leite. A Padaria Cirilo (ou Cirillo?) era na rua Amador Bueno,
mas eu ia lá raramente, porque o pão era entregue em casa. Lembro-me de um pão
redondo que era só miolo envolto em uma casca crocante delicioso – não era pão
italiano. Eu adoro pão. Minha avó fazia compras na Mercearia Natal ou na Casa Aymoré
– acho que era nesta mercearia que ela comprava um rebuçado que vinha embrulhado
num papel com a figura do Pedro Álvares Cabral (ou era Martim Afonso?). Deliciosos
– hoje nem me daria ao trabalho experimentar um. Doces eram feitos em casa. Fazíamos
compras também na “Cruzeiro do Sul”, laticínio que ficava na avenida São Francisco.
A rua Amador Bueno já era basicamente
comercial, quando mudamos de lá em 1960. Algumas lojas existem até hoje – como a
Farmácia Indiana, “Ao Dr. Das Tesouras”, “Galeria Santista”. A Instaladora”
desapareceu, mas guardo uma foto de uma moça que trabalhou na loja e todos os
dias parava sob a janela de casa para um dedo de prosa com minha avó, que gostava
de ver o movimento da rua, no final da tarde. A joia da rua sempre foi e será o
Centro Português que, por incrível que pareça, nunca conheci por dentro. Nem fotografei... Tudo isso por causa de um
pão de cará...
3 comentários:
Eu fazia ballet com a professora Arlinda Gomes Leal, na garagem do lindo sobrado ali, na Rua Castro Alves, no Embaré. O Studio de Ballet era totalmente adaptado com barras, espelhos, e uma pequena arquibancada. Dos 11 aos 13 anos dancei valsas Vienenses, Polka e o clássico Sagração da Primavera sempre em recitais de fim de ano. A primeira apresentação ocorreu no palco do Real Centro Português. Fiz o solo de uma Polka com coreografia bem movimentada de acrobacias. Meu pai tomava " umas e outras" e chegou alterado aplaudindo de pé o tempo inteiro. Não vi a cena. Estava concentrada em minhas piruetas fantasiada dentro de um colant de seda azulão bordado de lantejoulas douradas e miçãngas amarelas. No final, minha mãe veio toda envergonhada contar o escândalo que ele aprontou.
Lembro perfeitamente da Padaria Cirilo na Amador Bueno. Havia uma garagem com piso toda em paralelepípedo para as carroças entrarem com os sacos de farinha. O Cirilo era amigo do meu avô, Joaquim João Delgado, de Cabo Verde.
Bom dia, minha amiga. Eu sabia que você estudara balé, mas ignorava que tinha chegado a se apresentar e no Real Centro Português, antigo nome da casa portuguesa, com certeza! E suas memórias da padaria são melhores do que as minhas que se restringem aos pães, porque não lembro os detalhes do prédio... Um abraço.
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