“Quando cheguei
ao Brasil uma semana atrás, pensava ter vindo como forasteiro. Estava enganado.
Pensava ter vindo como homem de meia-idade, para visitar um país que seria
também de meia-idade, em virtude de sua longa história. Enganara-me novamente.
Descobri uma cidade, São Paulo, que nunca poderia ser de meia-idade porque é
demasiadamente dinâmica e confiante em si mesma. Espero apenas que o que eu
deixo aqui se iguale, um pouco pelo menos, à recordação e à admiração por uma
cidade incrível e hospitaleira que levarei comigo para casa. 14-agosto -1954.”
William Faulkner
(1897-1962), prêmio Nobel de Literatura de 1950, chegou a São Paulo no domingo,
8 de agosto de 1954 para participar do Congresso Internacional de Escritores,
parte das comemorações do quarto centenário da cidade. Ficou hospedado no Hotel
Esplanada na Praça Ramos de Azevedo (atualmente escritórios do grupo
Votorantim). Foi pouco visto no congresso, onde fez palestra para jovens poetas.. Passou mais tempo no
hotel e fez alguns passeios pela cidade. No MASP (e em outros locais que
visitou), deitou-se no chão por causa das dores nas costas, que atribuía a ferimentos
na I Guerra, em que nunca combateu de acordo com o biografo Joseph Blotner (1923-2012).
Visitou o Instituto Butantã,
onde segurou cobras enquanto gritava várias vezes “Sou um fazendeiro!”. Quem
contou o fato foi a escritora Lygia Fagundes Telles (cujos olhos encantaram o
americano), que acompanhou Faulkner a alguns compromissos. No Jockey Club de
São Paulo, assistiu a corridas, mas não apostou; ainda visitou fazendas de café
que lhe despertaram o interesse pelo preço da terra e pelos tipos de plantio. Lygia
Fagundes Telles (1923) também lembrou mais tarde que Faulkner se entusiasmou
com a constelação do Cruzeiro do Sul. Não se esqueceram de marcar uma audiência
com o governador de São Paulo, Lucas Nogueira Garcez (1913-1982) que,
indelicadamente, deixou Faulkner esperando bastante para recebê-lo.
Antigo Hotel Esplanada, atual Secretaria de Estado da Agricultura.
Antes de partir, escreveu aos
paulistas a mensagem acima que deixou na recepção do hotel. Aliás, não foi a
única coisa que Faulkner deixou no Esplanada. A gerência do hotel telefonou
para Lygia Fagundes Telles avisando que Faulkner esquecera uma sacola xadrez,
onde mais tarde ela encontrou vários livros dados ao americano por escritores
brasileiros, como se podia constatar pelos autógrafos. Lygia, polidamente,
justificou o “esquecimento”: como Faulkner não falava português, a sacola seria
um peso inútil para ele. Os livros foram doados para a Biblioteca Municipal.
William Faulkner é autor de “Palmeiras
selvagens”, “O som e a fúria”, “Luz em agosto”.
2 comentários:
Muito interessante, Hilda. Bem legal. Parabéns.
Obrigada, Danilo. Um abraço.
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