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Em 1983 o jornalista Boris Casoy (na
época na Folha de S. Paulo) pediu ao professor José Carlos de Figueiredo Ferraz
(1918-1994) que escrevesse um artigo sobre São Paulo para ser publicado no dia
25 de janeiro, quando a cidade completaria 429 anos. Uma escolha justificada,
já que Figueiredo Ferraz tinha sido prefeito de São Paulo no período de 1971-1973
e era um estudioso da metrópole. Ele escreveu, na verdade, uma bela crônica: “São
Paulo: Passado, Presente, Futuro”. Começa pedindo desculpas ao jornalista por
ter assumido um compromisso que não tinha capacidade de cumprir pela
complexidade da metrópole paulistana, mas à medida que se justifica vai desenhando
um retrato realista de São Paulo, apontando os problemas que afligem a
população desde a sua origem. E conclui:
...
“Assim, meu amigo, sobre esta São
Paulo tão complexa eu não tenho condição de escrever como, creio, não o têm os sociólogos
e os economistas.
É tarefa para os poetas. Só eles,
pela sensibilidade que lhe é peculiar, pelo seu poder de abstração, ainda podem
ver o azul no negrume do nosso ar poluído, o verde no cinzento do concreto, a
pureza cristalina no marrom das águas fétidas e conspurcadas que nos envolvem;
ver o sorriso no choro de uma criança, a resignação numa lágrima que rola, ver
energia nos corpos cansados e esperanças quando tudo é adverso.
Só eles podem realçar ou exaltar ‒ e isto é o que importa ‒ a nossa determinação inquebrantável de prosseguir,
sem esmorecer, certos de um porvir sempre melhor, convencidos de que o
crescimento econômico equilibrado e justo, não é incompatível com a paz social.
Só ele pois, os poetas, podem
descrever esta São Paulo, exaltando as suas virtudes e as suas imensas
potencialidades, sobretudo ao ensejo de uma data como esta.
Perdoe-me, caro amigo, a
incompetência que revelei e o desaponto que lhe causei.”
Publicado no jornal Folha de S. Paulo, em 25 de janeiro de
1983.
URBS NOSTRA, de J. C. de Figueiredo Ferraz, 1991.
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