sábado, 18 de janeiro de 2020

SOBRE SAMPAIO E SALDANHA


No princípio, chamava-se Rua Nova de São José, mas segundo cronistas da época estava longe de ser um lugar santo: “era um só prostíbulo varejado pela linha de bondes que a atravessava de ponta a ponta”*. Em 1912 uma parte do casario modesto desapareceu com a remodelação urbana em curso na região e logo prédios elegantes começaram a brotar em sua extensão.


Foi lá que se ergueu o primeiro arranha-céu de São Paulo com doze pavimentos e 50 metros de altura, projeto dos arquitetos Samuel Augusto das Neves (1863-1937) e Christiano Stockler das Neves (1889-1982) para o comerciante José de Sampaio Moreira (1866-1943). O título de prédio mais alto da cidade durou até a conclusão do Edifício Martinelli em 1929. Quando edifício de Sampaio Moreira ficou pronto em 1924, a Casa Godinho, mercearia do português José Maria Godinho que funcionava na Praça da Sé desde 1888, instalou-se na loja, onde se encontra até hoje. Nada mal: duas instituições paulistanas no mesmo endereço ‒ Líbero Badaró, 346. Em estilo eclético, o Sampaio Moreira esteve fechado por alguns anos, passou por um restauro cuidadoso e atualmente é sede da Secretaria Municipal de Cultura.
Enquanto se espera um dos quatro elevadores, há muito que ver: a porta de entrada de ferro trabalhado, o teto ornamentado e as escadarias de mármore branco. O acesso ao terraço é pelas escadas, passando pela sala de máquinas onde ficam os três motores suecos que desde 1924 movimentam os elevadores. Do terraço, tem-se uma bela vista de São Paulo, do Vale do Anhangabaú com o Theatro Municipal dominando o cenário. Melhor: pode-se admirar de perto a beleza da colunata que se vislumbra da rua e arremata o edifício.
O prédio é tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico de São Paulo (CONPRESP) e a Casa Godinho foi reconhecida pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (CONPRESP) como patrimônio cultural imaterial da cidade.

A história do o Edifício Saldanha Marinho (Rua Líbero Badaró, 39) está vinculada de certa forma ao desenvolvimento dos transportes na cidade. Nas primeiras décadas do século, o trem tinha papel relevante na economia do país e os automóveis ainda eram um artigo de luxo. No final da década de 1920, o Automóvel Club de São Paulo promoveu um concurso para a nova sede e o projeto vencedor foi de Elizário da Cunha Bahiana e Christiano Stockler das Neves (autor da estrutura); entretanto, antes do término da obra, o prédio foi vendido para a Companhia Paulista de Estradas de Ferro (CPEF) e o arquiteto Dácio Aguiar de Moraes (1875-1958) assumiu a construção e fez algumas alterações no projeto original. O Saldanha Marinho, erguido entre 1929 e 1933, inclui-se entre os primeiros edifícios em estilo art déco na cidade, tem onze andares, dois elevadores, vitrais da Casa Conrado (o mais importante ateliê de vitrais do país);pisos das escadas e do saguão em mármore. O nome do prédio é homenagem ao pernambucano Joaquim Saldanha Marinho (1816-1895), que foi presidente (governador) das Províncias de Minas e de São Paulo e teve papel decisivo na fundação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. O prédio foi tombado em 1986. Atualmente, é sede da Secretaria de Segurança Pública.

        CURIOSIDADE: O escritor Oswald de Andrade manteve entre 1917 e 1918 uma garçonnière na sala dois, terceiro andar do prédio 67 da Rua Líbero Badaró, que servia também para os saraus literários frequentados por Monteiro Lobato, Menotti del Picchia e Guilhermee de Almeida entre outros amigos. Era o “covil da Rua Líbero”, como o próprio Oswald referia-se ao apartamento. A amante desse período era “Miss Ciclone”, uma normalista. 


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