No princípio, chamava-se Rua Nova de São José, mas segundo cronistas da
época estava longe de ser um lugar santo: “era um só prostíbulo varejado pela linha de
bondes que a atravessava de ponta a ponta”*. Em 1912 uma parte do casario
modesto desapareceu com a remodelação urbana em curso na região e logo prédios
elegantes começaram a brotar em sua extensão.
Foi lá que se ergueu o primeiro arranha-céu de São Paulo com doze pavimentos e 50 metros de altura, projeto dos arquitetos Samuel Augusto das Neves (1863-1937) e Christiano Stockler das Neves (1889-1982) para o comerciante José de Sampaio Moreira (1866-1943). O título de prédio mais alto da cidade durou até a conclusão do Edifício Martinelli em 1929. Quando edifício de Sampaio Moreira ficou pronto em 1924, a Casa Godinho, mercearia do português José Maria Godinho que funcionava na Praça da Sé desde 1888, instalou-se na loja, onde se encontra até hoje. Nada mal: duas instituições paulistanas no mesmo endereço ‒ Líbero Badaró, 346. Em estilo eclético, o Sampaio Moreira esteve fechado por alguns anos, passou por um restauro cuidadoso e atualmente é sede da Secretaria Municipal de Cultura.
Enquanto se espera um dos
quatro elevadores, há muito que ver: a porta de entrada de ferro trabalhado, o
teto ornamentado e as escadarias de mármore branco. O acesso ao terraço é pelas
escadas, passando pela sala de máquinas onde ficam os três motores suecos que
desde 1924 movimentam os elevadores. Do terraço, tem-se uma bela vista de São
Paulo, do Vale do Anhangabaú com o Theatro Municipal dominando o cenário. Melhor: pode-se
admirar de perto a beleza da colunata que se vislumbra da rua e arremata o edifício.
O prédio é tombado pelo Conselho
Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico de São Paulo (CONPRESP) e
a Casa Godinho foi reconhecida pelo Conselho Municipal de Preservação do
Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (CONPRESP) como patrimônio
cultural imaterial da cidade.
A história do o Edifício Saldanha Marinho (Rua Líbero Badaró, 39) está
vinculada de certa forma ao desenvolvimento dos transportes na cidade. Nas
primeiras décadas do século, o trem tinha papel relevante na economia do país e
os automóveis ainda eram um artigo de luxo. No final da década de 1920, o Automóvel
Club de São Paulo promoveu um concurso para a nova sede e o projeto vencedor foi
de Elizário da Cunha Bahiana e Christiano Stockler das Neves (autor da
estrutura); entretanto, antes do término da obra, o prédio foi vendido para a
Companhia Paulista de Estradas de Ferro (CPEF) e o arquiteto Dácio Aguiar de
Moraes (1875-1958) assumiu a construção e fez algumas alterações no projeto
original. O Saldanha Marinho, erguido entre 1929 e 1933, inclui-se entre os
primeiros edifícios em estilo art déco
na cidade, tem onze andares, dois elevadores, vitrais da Casa Conrado (o mais
importante ateliê de vitrais do país);pisos das escadas e do saguão em
mármore. O nome do prédio é homenagem ao pernambucano Joaquim Saldanha Marinho (1816-1895),
que foi presidente (governador) das Províncias de Minas e de São Paulo e teve
papel decisivo na fundação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. O prédio
foi tombado em 1986. Atualmente, é sede da Secretaria de Segurança Pública.
CURIOSIDADE: O escritor
Oswald de Andrade manteve entre 1917 e 1918 uma garçonnière na sala dois, terceiro andar do prédio 67 da Rua Líbero
Badaró, que servia também para os saraus literários frequentados por Monteiro
Lobato, Menotti del Picchia e Guilhermee de Almeida entre outros amigos. Era
o “covil da Rua Líbero”, como o próprio Oswald referia-se ao apartamento. A
amante desse período era “Miss Ciclone”, uma normalista.
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