domingo, 12 de janeiro de 2020

SÃO PAULO E OSWALD DE ANDRADE

Balada do Esplanada
A Gofredo 

Ontem à noite
Eu procurei
Ver se aprendia
Como é que se fazia
Uma balada
Antes d' ir
Pro meu hotel

É que este
Coração
Já se cansou
De viver só
E quer então
Morar contigo
No Esplanada.

Eu qu'ria
Poder
Encher
Este papel
De versos lindos
É tão distinto
Ser menestrel

No futuro
As gerações
Que passariam
Diriam
É o hotel
Do menestrel

Pra m'inspirar
Abro a janela
Como um jornal
Vou fazer
A balada
Do Esplanada
E ficar sendo
O menestrel
De meu hotel

Mas não há poesia
Num hotel
Mesmo sendo
'Splanada
Ou Grand-Hotel

Há poesia
Na dor
Na flor
No beija-flor
No elevador
                               Oferta
Quem sabe
Se algum dia
Traria
O elevador 
Até aqui
O teu amor
até aqui

Oswald de Andrade

"Primeiro Caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade". São Paulo: Editora Globo, Secretaria de Estada da Cultura, 1991.

Foto:novembro de 2019. Antigo Hotel Esplanada, sede da atual Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento. Praça Ramos de Azevedo, 254. Foto: Hilda Araújo.

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