sábado, 12 de fevereiro de 2022

CHEIROS

 

Algumas coisas simplesmente desaparecem de nossa memória e delas de repente lembramos, mas de forma indefinida. Caso do açúcar preto. Não me foi estranho encontrar menção a ele, mas não consigo estabelecer onde e como o açúcar preto fez parte da minha infância. Esse “problema” surgiu quando folheava o livro de Jorge Americano sobre “São Paulo Naquele tempo” e me deparei com o capítulo dos “Cheiros que se sentiam”. Da longa relação feita por ele, muitas são banais. Felizmente, ainda sinto o perfume do café torrado porque no empório aqui perto é possível comprar o café torrado na hora. Ele cita o cheiro do pavio de vela soprada... Para mim era só cheiro de vela ‒ não gosto de velas. Jorge Americano vai enumerando o cheiro de mofo da abertura dos porões baixos, de papel na papelaria (só me lembro de cheiro de livro e de jornal novos), de madeira nova em serrarias (há anos que não encontro uma serraria), de couros expostos na Rua Vinte e Cinco de Março (teria em Santos? não lembro), flores de enterro (acho que se incluem no odor de cemitérios)... E lá se encontra o cheiro de lisol e creolina, que seguem em moda no século XXI ‒ especialmente o lisol que ganhou destaque nos dois últimos anos. Fiquei curiosa com o cheiro do lacre da correspondência do Correio, de carvão de ferro de passar roupa (nunca vi um em funcionamento). Não gosto, por exemplo, do perfume de damas-da-noite nem de jasmins. Jorge Americano consegue até ser poético quando cita “cheiro de mulher feliz”.

        Para mim sempre me agradam cheiro de pão fresco, da canela sobre as rabanadas de vinho, do peixe assando, de abacaxi maduro, de carne assando em fogão a lenha (só lembrança), maresia e...muito mais.

Carlo Cressini (1864-1938), pintor italiano: "Lavanderia".

São Paulo Naquele Tempo (1895-1915). Jorge Americano (1891-1969). São Paulo: Edição Saraiva, 1957.

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