domingo, 6 de fevereiro de 2022

OS ESQUECIDOS

Minas Gerais esteve representada na semana modernista por AGENOR FERNANDES BARBOSA (1896-1976), natural de Montes Claros. Formado em direito pela faculdade do Largo de São Francisco em 1926, Barbosa foi poeta, jornalista e fez carreira como funcionário público. Foi descoberto por Menotti Del Picchia, que o lançou Barbosa em sua coluna no Correio Paulistano, em  14  de  abril  de  1921.  O talento do mineiro já era reconhecido em seu estado natal: “Agenor Barbosa, quando jovem, foi um dos poetas mais queridos de Belo Horizonte. Muito magro, muito pálido, escrevia nas revistas versos líricos, que eram gravados de cor pelas garotas de 1915" ‒ de acordo com entrevista do acadêmico mineiro Djalma Andrade, publicada no jornal ESTADO DE MINAS. Em São Paulo Agenor trabalhou no CORREIO PAULISTANO e na editoria literária da revista A CIGARRA. Seus poemas o identificaram com os modernistas, mas não gostava de classificações como escreveu: “Tenho desejo de ser, simplesmente, um daqueles tantos obscuros trabalhadores da arte, que se esforçam anônima e ingloriamente para atualiza-la neste tempo e nestes lugares, onde a tradição é um culto irrevogável e onde os mortos, como na moralidade de Comte, ainda tanto governam os vivos".  Agenor Barbosa não só participou da Semana de Arte Moderna como ajudou na organização, junto com Rubens Borba de Moraes. Na segunda noite do evento do Theatro Municipal, 15 de fevereiro, ele recitou um poema que, dizem, teria sido o único a receber aplausos naquela noite que teve palestra de Menotti Del Picchia. 

Outro participante da Semana foi TÁCITO DE ALMEIDA (1899-1940), irmão de Guilherme de Almeida. Teve um trabalho importante na realização e divulgação da Semana de Arte Moderna. Formado em Direito (Largo de São Francisco), foi delegado, promotor, poeta e jornalista. Participou ativamente do Movimento de 1932. É um dos fundadores da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, onde lecionou Ciências Políticas. Suas poesias foram publicadas em jornais e revistas; escreveu um livro em 1922, publicado postumamente ‒ “O Túnel”. Após a juventude, Tácito de Almeida deixou a poesia para o irmão. O professor Leandro Pasini, doutor pela USP em Teoria Literária e Literatura Comparada, afirma que “Do que foi publicado de sua obra poética, não obstante, poderia se julgar que se trata de um autor dotado de aguda consciência de seu momento histórico-literário e que buscou afirmar a sua personalidade moderna por meio da consumação de sua sensibilidade crepuscular, de seu penumbrismo”.  (“A Semana de 22 e a poesia: contradições e desdobramentos”)

SALVAR

Tácito de Almeida

 Mais um desejo, amigo!

É preciso soltar,

Pelas florestas frias e adormecidas,

Todos os nossos desejos tímidos,

Procurando mesmo assombrá-los,

Para que fujam, para que corram

E se desviem por todos os lados...

 

Mais um desejo!

É preciso que a pálida vida,

Nos seus longos passeios desoladores,

Encontre sempre um desejo perdido

Que ela saivá salvar.



Revista Klaxon, nº 6. 15/10/1922.

Fonte: http://literalmeida.blogspot.com

Penumbrismo: período entre o Simbolismo e o Modernismo

 

O paulista LUÍS ARANHA (1901-1987) também participou da programação do dia 15 de fevereiro, declamando seus poemas e apresentando a seção de artes plásticas. Na época ainda era estudante de Direito. Luís Aranha foi apresentado a Mário de Andrade pelos irmãos mais velhos e passou a frequentar a casa do escritor que reunia os amigos às terças-feiras. Aranha trabalhou numa drogaria na Rua São Bento e a experiência resultou no poema “Drogaria de Éter e de Sombra”, muito bem recebido pela crítica. Seus poemas foram publicados na Klaxon, na Revista do Brasil e Revista Estética (RJ). Em 1984, o poeta Nelson Ascher e o crítico literário Rui Moreira Leite reuniram a obra de Luís Aranha no livro “Cocktails” em 1984 (São Paulo: Editora Brasiliense). Depois que se formou, Aranha mudou para o Rio de Janeiro e entrou para a carreira diplomática, abandonando também a literatura. 

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