terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

RONALD DE CARVALHO

 

O poeta carioca RONALD DE CARVALHO (1893-1935) teve um papel importante na noite de abertura da semana de arte moderna, quando recitou suas poesias e fez uma conferência sobre “A pintura e a escultura moderna no Brasil”. Na ocasião tinha 29 anos e trilhava uma carreira diplomática de sucesso. O poeta modernista era filho do capitão-tenente e engenheiro naval Artur Augusto de Carvalho e sobrinho de Álvaro Trajano de Carvalho, que tiveram uma importante participação na Revolta da Armada (1889-1894), o levante contra o presidente Floriano Peixoto (1839-1895). Ambos foram presos em Santa Catarina e fuzilados em 1894.  

        Enquanto estudava na Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, Ronald de Carvalho trabalhava no Diário de Notícias, dirigido por Rui Barbosa; em 1913 viajou para Paris onde fez o curso de Filosofia e Sociologia na Sorbonne. Nesse mesmo ano publica seu primeiro livro de poemas “Luz gloriosa”. Ao retornar em 1914, ingressa no Itamaraty, sem se descuidar da literatura, pois no ano seguinte participa da fundação da revista portuguesa “Orpheu”. O primeiro número reúne poemas de Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, José de Almada-Negreiros e de Ronald de Carvalho. “Orpheu” foi  muito mal recebida pela crítica e pela imprensa, teve apenas duas edições, mas desempenhou um relevante papel na introdução do modernismo em Portugal.

         Assim, pode-se dizer que em 1922, Ronald de Carvalho já era um modernista internacional. Nesse ano, ele publica dois livros: “Epigramas irônicos e sentimentais” e “Espelho de Ariel”. Homem de muitas atividades (historiador, tradutor, crítico), ele continuou colaborando com jornais da Argentina, Estados Unidos, França, México, Peru e Suíça, e manteve por muitos anos uma colona no Jornal do Brasil sobre política internacional.

Ronald de Carvalho morreu em acidente de carro no Rio de Janeiro em 15 de fevereiro de 1035 aos 42 anos.


O MERCADOR DE PRATA, DE OURO E ESMERALDA

Cheira a mar! cheira a mar!
As redes pesadas batem como asas,
As redes úmidas palpitam no crepúsculo.
A praia lisa é uma cintilação de escamas.
Pulam raias negras no ouro da areia molhada,
O aço das tainhas faísca em mãos de ébano e bronze.
Músculos, barbatanas, vozes e estrondos, tudo se mistura,
Tudo se mistura no criar da espuma que ferve nas pedras.


Ilustração: Retrato de Ronald de Carvalho (1921), por Vicente do Rego Monteiro. Acervo Museu de Arte Contemporânea/ USP.

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