segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

RIBEIRO COUTO

 


A cidade de Santos também teve um representante na segunda noite da semana modernista no Teatro Municipal de São Paulo: RUI RIBEIRO COUTO, jovem de 23 anos (completaria 24 em março). Ribeiro Couto nasceu em Santos em 1898, estudou na Escola de Comércio José Bonifácio e em 1912 estreou no jornalismo em A Tribuna; três anos depois mudou para São Paulo, onde se matriculou na Faculdade Direito e continuou no jornalismo, atuando no Jornal do Comércio e no Correio Paulistano, onde muito provavelmente deve ter conhecido os modernistas. Há poucas referências sobre esse período e nenhuma menção no verbete da Academia Brasileira de Letras. Formou-se em 1919 pela Faculdade de Ciências Jurídicas do Rio de Janeiro. O primeiro livro dele de poesias, “O Jardim das Confidências”, foi publicado em 1921. Em 1922, publicou mais dois livros: “A casa do gato cinzento” e “O crime do estudante Batista”. Participou da semana, mas logo depois deixou a cidade de São Paulo por questões de saúde; foi delegado e promotor público e manteve-se no jornalismo, mas continuava escritor. Em 1931 lançou uma das suas obras mais populares, “A Cabocla”, que décadas mais tarde foi adaptada para a televisão por Benedito Ruy Barbosa. Aos 36 anos foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira 26. Era o mais jovem dos acadêmicos. Mais tarde ingressou na carreira diplomática, sendo designado para a França, onde em 1958 recebeu o prêmio internacional de poesia concedido a estrangeiros pelo livro “Le jour est long”, escrito em francês. Nas várias pesquisas, nenhuma referência a sua participação na semana modernista. Em Santos uma praça da Vila Nova homenageia Ribeiro Couto.

Para combinar com o dia, escolhi esta poesia:


 CHUVA

A chuva fina molha a paisagem lá fora.
O dia está cinzento e longo... Um longo dia!
Tem-se a vaga impressão de que o dia demora...
E a chuva fina continua, fina e fria,
continua a cair pela tarde, lá fora.

Da saleta fechada em que estamos os dois,
vê-se, pela vidraça, a paisagem cinzenta:
a chuva fina continua, fina e lenta...
E nós dois em silêncio, um silêncio que aumenta
se um de nós vai falar e recua depois.

Dentro de nós existe uma tarde mais fria...

Ah! Para que falar? Como é suave, brando,
o tormento de adivinhar - quem o faria? -
as palavras que estão dentro de nós chorando...

Somos como os rosais que, sob a chuva fria,
estão lá fora no jardim se desfolhando.

Chove dentro de nós... Chove melancolia...

“O jardim das confidências”, 1921.

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