segunda-feira, 4 de novembro de 2019

NO PRINCÍPIO, O THEATRO...


Há 127 anos era inaugurado o Viaduto do Chá. O viaduto original, o primeiro da cidade, tinha 240 m de comprimento (180 m constituíam a estrutura metálica) por catorze metros de largura, sendo nove metros destinados à passagem central e cinco a passarelas laterais, estas revestidas de assoalhos de madeira. Para a iluminação havia 26 lâmpadas a gás e nas extremidades foram colocadas obras de arte, além dos portões e guaritas para cobrança de pedágio no valor de três vinténs. Projeto do francês Jules-Victor-André Martin (1832–1906) executado pela Companhia Paulista do Viaducto do Chá, criada especialmente para esse fim. 
O Teatro Municipal e o "Edifício Glória" espremido entre prédios modernos e meio escondido pelos buquês de sibipirunas.
Corria o ano de 1891 e as cabeças pensantes da época almejavam um bom teatro para a cidade. Havia umas quatro ou cinco casas de espetáculos e a melhor era o Teatro São José, que acabou destruído por um incêndio em 1898. O prefeito Fábio Prado (1887-1963) resolveu investir na ideia. O local escolhido? Uma área da Chácara do Chá, do velho barão de Itapetininga que, desapropriada, deu lugar às ruas (denominações atuais) Formosa, Coronel Xavier de Toledo, Conselheiro Crispiniano e Vinte e Quatro de Maio.
Trabalho de dois arquitetos italianos: Cláudio Rossi (1850-1935) fez o projeto e Domiziano Rossi (1865-1920) se encarregou dos desenhos; a construção ficou a cargo do Escritório Técnico de Ramos de Azevedo e a obra começou em junho de 1903.
O paulistano, contudo, teve que esperar oito longos anos para a inauguração do Theatro Municipal de São Paulo, que aconteceu em 12 de setembro de 1911, um dia após a data prevista. Foi um evento tão grandioso que gerou o primeiro congestionamento da cidade, quando alguns automóveis disputaram espaço com tílburis e carruagens que transportavam os convidados. O povo não se fez de rogado e cerca de vinte mil pessoas foram apreciar a iluminação pública elétrica do entorno do teatro. Uma novidade e tanto. A espera valeu a pena.

O prédio atrás do teatro.
No início dos anos de 1920, outra grande obra se realizava atrás do teatro: o prédio de sete andares do ESPLANADA HOTEL, projeto dos arquitetos franceses Emile-Louis Viret e Gabriel Marmorat. O hotel (250 quartos dos quais trinta sem banheiro) foi inaugurado em março de 1923 com um grande jantar de gala ao som de duas orquestras e tornou-se o ponto de reuniões da sociedade. Muitos hóspedes estrangeiros usavam o estabelecimento para “vender seu peixe”. Caso de Elisa Giaccone Macceloni, da casa de moda Giaccone Macceloni & Cia., de Lucca e Florença, cuja bagagem era “constituída de tudo o que de mais fino foi visto até hoje em elegância, bom gosto e perfeição”, de acordo com o anúncio que publicou em O Estado de S. Paulo. Madame Madaleine Doré foi outra que desembarcou em São Paulo para uma estada de apenas dois dias para liquidar “sa superbe collection à prix reduit”, nos apartamentos 301-303. O hotel era também o endereço para vernissages e uma das primeiras foi a do pintor e ilustrador francês Louis Tinayre (1861-1941) ainda em 1923.
Com o tempo o Esplanada ficou conhecido como “o hotel das estrelas”, pois hospedava artistas que se apresentavam no Theatro Municipal. (Conta-se que havia um túnel ligando o hotel ao teatro.) Entre os ilustres escritores que dormiram lá se destacam o inglês Rudyard Kipling (1865-1936) e o americano William Faulkner (1897--1962), prêmio Nobel de Literatura de 1950.
Na década de 1960, o prédio foi comprado pela família Ermírio de Moraes, que lá instalou a sede da Votorantim. Uma compra sentimental: em 1925, o Esplanada Hotel foi o cenário do casamento dos jovens José Ermírio de Moraes (1900-1973) e Helena Pereira, pais de Antônio Ermírio de Moraes, o segundo dos quatro filhos que o casal teve. O edifício passou a se chamar ERMÍRIO DE MORAES. Em 2012 o governo do Estado de São Paulo adquiriu o prédio onde, atualmente, se encontram as Secretarias de Agricultura e Abastecimento e de Turismo. 
Tombado pelo CONPRESP em 1992. 
Praça Ramos de Azevedo, 254.
Manhã de domingo de dezembro de 2018.


FOTOS: Hilda Araújo, 3/11/2019.

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