Para terminar a semana
com poesia, meu poeta preferido: Fernando Pessoa, ou melhor, seu heterônimo Alberto Caeiro,
ilustrada com "As bolas de sabão", pintura de Édouard Manet
(1832-1883), acervo Museu Calouste Gulbenkian de Nova York. A tela é de 1867 e
o menino, filho do artista.
xxv
AS BOLAS de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,
Amigas dos olhos como as cousas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas são mais do que parecem ser.
Algumas mal se veem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer coisa se aligeira em nós
E aceita tudo mais nitidamente.
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